Mubarak propõe antecipar eleições no Egito e diz que não vai concorrer

01/02/2011 18:22

Folha.com

 

 

Em discurso à nação transmitido pela TV estatal, o ditador do Egito, Hosni Mubarak, --no poder há quase 30 anos-- confirmou que não concorrerá à reeleição. Ele disse também que irá ordenar que o pleito seja antecipado, mas deve ficar no poder até que um novo governo seja eleito pelo voto popular.

Falando ao povo egípcio, Mubarak classificou os protestos como vandalismo. "Tudo começou com pessoas inocentes, que têm o direito de manifestar suas preocupações, mas moveram-se de uma maneira civilizada de praticar a liberdade de expressão para tristes confrontos organizados por grupos politicos", disse.

  Mohammed Abed/AFP  
Tanque do Exército com grafite exibe o tom das revoltas no Egito; mais de 200 mil reuniram-se nesta terça-feira
Tanque do Exército com grafite exibe o tom das revoltas no Egito; mais de 200 mil reuniram-se nesta terça-feira

As próximas eleições presidenciais estavam marcadas para setembro deste ano. Anteriormente, autoridades haviam indicado que Mubarak, 82, concorreria para um novo mandato de seis anos. Agora, diante do anúncio de que ficará de fora do pleito, as dúvidas pairam sobre a possibilidade de que seu filho, Gamal, seja um dos candidatos.

PROTESTOS

Ao menos 200 mil pessoas se aglomeram na praça Tahrir, a principal do Cairo nesta terça-feira, no megaprotesto contra o ditador Hosni Mubarak, que está há quase 30 anos no poder. Ativistas esperam reunir cerca de 1 milhão nas ruas. Apesar do grande número de manifestantes, não há registro de violência até o momento.

Apesar dos violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança nos últimos dias, as Forças Armadas do Egito divulgaram um comunicado nesta segunda-feira admitindo o direito dos manifestantes de reivindicarem suas demandas e disseram que não usarão a força para conter os protestos. O saldo de mortos nos confrontos está em 138, segundo a agência Reuters. No entanto, não há confirmação oficial sobre as vítimas da violência dos últimos dias.

Organizadores disseram que a manifestação se limitaria à praça, e que evitariam entrar em confronto com soldados. Helicópteros militares continuam sobrevoando a cidade e os soldados mobilizados na capital desde sexta-feira controlam os pontos de acesso. Mas as cenas são bem diferentes de sexta-feira passada (28), quando a polícia não poupou cassetetes, gás lacrimogêneo e jatos de água para conter os manifestantes.

O ato começou na madrugada desta terça-feira, quando mais de 5.000 pessoas chegaram à praça para passar a noite, violando o toque de recolher. Há boatos de que os manifestantes marchariam até o Palácio Presidencial, mas com o número de manifestantes cada vez maior, a concentração continua a praça Tahrir.

  Khalil Hamra/AP  
Manifestantes levam cartazes em protesto no Cairo; ao menos 200 mil estão nas ruas
Manifestantes levam cartazes em protesto no Cairo; ao menos 200 mil estão nas ruas da capital

Estradas que ligam o Cairo a cidades como Alexandria, Suez, Mansoura e Fayoum foram fechadas. No entanto, muitos moradores dessas e de outras regiões conseguiram chegar até a capital. Hamada Massoud, advogado de 32 anos, disse ter viajado ao lado de outras 50 pessoas em carros e microônibus da província deBeni Sweif, ao sul do Cairo. "Hoje o Cairo é todo o Egito. Quero que meu filho tenha uma vida melhor e não sofra como sofri. Quero poder escolher meu presidente", disse o manifestante.

Dezenas de milhares também saíram às ruas de Alexandria, Suez e Mansoura (norte), assim como em Assiut e Luxor, ao sul do país. Bancos, escolas e muitos comércios permaneceram fechados no Cairo pelo 3º dia consecutivo. Longas filas se formaram em frente a supermercados, e o preço dos alimentos disparou.

A internet continua fora do ar no país pelo 5º dia consecutivo.

AEROPORTO

O Aeroporto Internacional do Cairo está aberto, mas os voos podem sofrer atrasos e cancelamentos devido às manifestações antigoverno.

  Patrick Baz/AFP  
Passageiros aguardam no aeroporto do Cairo; cerca de 18 mil tentam deixar país
Passageiros aguardam no aeroporto do Cairo; cerca de 18 mil pessoas tentam deixar país

O clima é de caos, com cerca de 18 mil passageiros tentando deixar o país. Ao menos 35 voos fretados deixaram o país nesta terça-feira, levando milhares de turistas para a Europa e para outros países do Oriente Médio.

O governo dos EUA retirou 1.200 americanos em nove voos ontem, e pretende retirar mais 1.400 nos próximos dias. Os cidadãos estão sendo levados para Larnaca (Chipre); Atenas (Grécia) e Istambul (Turquia). Frankfurt, na Alemanha, também deve ser incluída nos destinos.

A companhia nacional EgyptAir cancelou cerca de 75% dos voos devido à falta de triupulação disponível, após o toque de recolher decretado no país.

Dezenas de milhares de turistas europeus costumam viajar ao Egito neste período do ano. Com isso, governos estrangeiros e operadores de turismo enfrentam dificuldades para retirar o grande número de visitantes que está no país.

Agências de turismo prometeram retirar todos os seus clientes nesta semana, ressaltando que não há distúrbios em regiões como Hurghada e Sharm el Sheik.