Procuradora acusada de torturar criança dorme em cela especial de presídio no Rio
A procuradora aposentada Vera Lúcia de Sant'Anna Gomes, 66, passou a noite de quinta e sexta-feira em uma cela individual especial para quem tem nível superior no presídio Nelson Hungria, no conjunto penitenciário de Bangu, zona oeste do Rio.
Foragida havia oito dias, ela se apresentou ontem à Justiça do Rio e chorou ao ouvir o juiz Guilherme Duarte, da 32ª Vara Criminal, ler os autos do processo em que é acusada de torturar uma menina de dois anos que estava sob sua guarda para adoção.
Quando deixou o fórum na tarde de ontem, já presa, para ser encaminhada à Polinter (Polícia Interestadual), no Andaraí (zona norte), a procuradora foi hostilizada por pessoas do lado de fora. Acompanhada de policiais e dois advogados, ela foi levada para a Polinter e, em seguida, encaminhada para o complexo penitenciário de Bangu.
Ainda na tarde de ontem, a defesa pediu a revogação da detenção, mas o juiz negou. Para ele, a soltura pode prejudicar a colheita de provas. Jair Leite Pereira, advogado da acusada, disse que espera obter "pelo menos" a prisão domiciliar e nesta sexta já faz novo requerimento à Justiça.
Pereira afirmou ainda que a cliente nega as acusações. "O laudo do IML afirma que a lesões foram leves e não causaram nenhum mal-estar maior na criança." Já um laudo complementar do IML aponta lesões graves na garota.
Agressão
A criança agredida estava sob a guarda da procuradora desde 14 de março. No dia 15 de abril, após denúncia, uma equipe da Vara da Infância, acompanhada de uma juíza, uma promotora e oficial de Justiça, foi à casa da procuradora. Machucada, a menina foi levada para o hospital municipal Miguel Couto, na Gávea (zona sul). Com os olhos inchados, ela precisou ficar três dias internada.
A denúncia (acusação formal) contra a procuradora foi feita no começo de maio pelo Ministério Público, que pediu sua prisão preventiva pelo crime de tortura. Os promotores responsáveis pela acusação, afirmam que ela submeteu a criança "a intenso sofrimento físico e mental, agredindo-lhe de forma reiterada, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal".